Meditação


-03 de Fevereiro de 2012-
Apresentação do Senhor

 
Sinal de Contradição
 
            A liturgia celebrou nesses dias a Festa da Apresentação do Senhor, conforme nos é relatado pelo evangelista São Lucas (Lc 2, 22-39). Segundo a prescrição do Livro do Êxodo todo o primogênito é consagrado ao Senhor (Ex 13,12) e deveria ser resgatado por uma soma de dinheiro ou um par de pombas oferecidas a título de sacrifício. É nesse contexto que é revelada a missão de Jesus que comporta uma dupla dimensão: “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32) e “sinal de contradição” (Lc 2,34).
            Como bem constata um monge cartuxo “há uma forte lição para nós, nessa ligação essencial entre a luz e a contradição. Jesus traz a luz aos homens, a cada um de nós; no entanto, essa luz será sinal de contradição”. Ele veio para “iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte” (Lc1,79). A luz de Deus entra em contradição com as trevas do nosso pecado. A contradição – prossegue o monge cartuxo – “existe, antes de tudo, no interior do nosso coração. Sabemos que o coração do monge é, de modo particular, lugar de combate entre trevas e luz”.
            Por meio do autoconhecimento vamos percebendo esse combate que se estabelece em nosso interior. São Paulo narra esse combate nos seguintes termos: “não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero” (Rm 7,19). Santa Teresa, dotada de um realismo único, confessa: “trata-se de uma das vidas mais penosas que, a meu ver, se pode imaginar: eu não me rejubilava em Deus nem me alegrava no mundo. Nos contentamentos mundanos, era atormentada pela lembrança do que devia a Deus; quando estava com Ele era perturbada pelos contentamentos do mundo. É tão dura essa batalha que nem sei como suportaria um mês, quanto mais tantos anos” (V8,2).
Porém, essa contradição que se estabelece em nosso coração entre a luz de Deus e as trevas do nosso pecado é sinal de salvação, se acolhida na paciência e na fé. É preciso ter paciência para que a luz divina vá penetrando a escuridão do nosso coração lentamente até iluminar com sua claridade todas as coisas. O que devemos fazer então para que a luz de Deus penetre em nós com mais facilidade?
            A resposta pode ser encontrada com grande propriedade em nosso Pai São João da Cruz. “Se o raio de sol vier refletir sobre um vidro manchado ou embaciado, não poderá fazê-lo brilhar, nem o transformará em sua luz de modo total, como faria se o vidro estivesse limpo e isento de qualquer mancha; este só resplandecerá na proporção de sua pureza e limpidez. O defeito não é do raio, mas do vidro; porque, se o vidro estivesse perfeitamente límpido e puro, seria de tal modo iluminado e transformado pelo que pareceria o mesmo raio, e daria a mesma luz” (2S 5,6).
Deparamo-nos com a necessidade de uma ascese que nos purifique para acolher a luz de Deus. Elencamos aqui alguns elementos, que consideramos ser importantes nessa ascese/combate:
- o caminho do autoconhecimento é necessário para descobrir a contradição que se abriga em nosso coração;
- a consciência de nossa miséria torna-nos humildes, porém, jamais derrotados pelo pecado;
- a paciência conosco mesmos é uma grande sabedoria e virtude;
- a compreensão e a paciência conosco leva à compreensão e paciência com os outros, condição da verdadeira caridade;
- a nossa miséria humana é o que nos dispõem para buscar e acolher a graça de Deus;
- enfrentamos o pecado de forma positiva, à medida que praticamos a virtude contrária ao vício que identificamos em nós.
 
Textos para meditar:
Lc 2, 22-39
Rm 6, 1-14
Rm 7,14-25


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Retiro do Noviciado Santa Teresa dos Andes
Epifania do Senhor

Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo está envolto pelo mistério de uma estrela que apareceu no Oriente para alguns magos e que indicou o caminho até a gruta de Belém, onde um recém nascido, sob o olhar atento e amoroso de seus pais, repousa em uma manjedoura. “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo (Mt 2,2). Com essas palavras os três reis magos indicaram para Herodes o que os guiava até a Judéia. A estrela era o sinal da realização da grande promessa: Deus visitará o seu povo!
Como de fato aconteceu naquela noite santa em que o Verbo se fez carne e veio morar entre nós (Jo 1,14). A estrela guiou-os para contemplar esse grande mistério. Sua luz iluminava as trevas das dúvidas e enchia de esperança o coração daqueles sábios magos, que ao sinal da estrela, se colocaram a caminho. A sua luz apontava para a Luz verdadeira que vindo ao mundo a todos ilumina (Jo 1,9). O Messias é a própria Luz e a todos e a tudo quer iluminar. Ele mesmo se apresentou como Luz do mundo e prometeu que quem o seguisse não andaria nas trevas, mas teria a luz da vida (Jo 8, 12). Pela Epifania celebramos a manifestação de Cristo como Luz para todas as nações.
O sinal da estrela foi algo tão forte na vida daqueles homens que a tudo deixaram e colocaram-se a caminho. Sua viagem fora motivada por uma forte esperança de poder contemplar o Messias esperado por toda a humanidade. “Era como se estivessem esperado sempre aquela estrela. Era como se aquela viagem estivesse sempre escrita em seu destino, que agora finalmente se cumpre” (João Paulo II). Os magos não se colocaram a perguntar sobre as dificuldades da viagem ou sobre os sacrifícios requeridos por ela. Tudo deixaram, livremente, porque sabiam que estavam indo ao encontro de algo muito maior, o próprio Deus. Os magos nos ensinam que é necessário despojar-se e torna-se peregrino na fé para ver grandes coisas.
O objetivo da viagem dos magos expressa o verdadeiro sentido do Natal e de nossa consagração religiosa: “viemos para adorá-lo”. A Beata Elisabete da Trindade entendeu profundamente esse sentido e tornou a sua vida um “louvor de glória a Trindade”. Esse é o nosso objetivo tornar a nossa vida um ato de louvor contínuo a Deus. Os magos tinham muito clareza sobre o objetivo que os guiava e por isso prosseguiram perseverantes, mesmo em meio aos desafios e contrariedades do caminho. Nós, carmelitas, herdamos de Santa Teresa a “determinada determinação” de não parar até chegar à fonte da água viva. Sem tal determinação não alcançaremos a nossa meta.
Os magos oferecem ao recém nascido ouro, incenso e mirra (Mt, 2,11). Pelo ouro eles reconhecem a sua realeza divina; pelo incenso proclamam-no como sacerdote da nova Aliança; pela mirra celebram o profeta que derramará o próprio sangue. Eis o triple múnus de Cristo. Também nós, pelo batismo participamos da realeza, do sacerdócio e do profetismo de Cristo. A missão de Cristo é também a nossa. Somos continuadores de sua Obra.
            João Paulo II dirigindo-se aos jovens na XX Jornada Mundial da Juventude em 2005 convidou-os a também oferecer algo a Cristo: “Queridos jovens, oferecei também vós ao Senhor o ouro da vossa existência, ou seja, a liberdade de o seguir por amor respondendo fielmente à sua chamada; fazei subir para Ele o incenso da vossa oração fervorosa, o louvor da sua glória; oferecei-lhe a mirra, isto é, o afeto repleto de gratidão por Ele, verdadeiro Homem, que nos amou até morrer como um malfeitor no Gólgota”.
         Nesse dia de retiro deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, estrela divina, para que também nós cheguemos ao Menino Deus recém nascido, para adorá-lo com nossas vidas e ofertá-lo nossa liberdade, nossa oração e afeto. Cristo continua hoje se manifestando como Luz para todos os povos. Acolhamos a sua manifestação com o coração aberto e generoso!




Textos para a leitura pessoal:
Mt 2, 1-12
Is 60, 1-6
Sl 71