Espiritualidade



                                       A Ordem da Virgem: 
            Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo

Assim como o vínculo dos primeiros eremitas com Elias era evidente, por isso as lendas em torno dele tinham coerência lógica, também era patente a relação primitiva com a Virgem. A ela foi dedicado o primeiro oratório e a ela traziam gravada no nome. Os patronos tinham para a sociedade medieval uma importância muito maior que em nosso tempo. A consciência era de que os patronos não eram escolhidos, mas eles é quem escolhiam para si a igreja, a cidade, o país que protegiam. A importância era tanta que entre as cidades medievais havia uma disputa para ver qual o patrono era mais forte. O Brasil barroco, filho de Portugal, assumiu esta reverência pelo padroeiro. No interior de Minas Gerais encontra-se uma pequena cidade que mantém uma interessante tradição. Na câmara de vereadores existe uma cadeira vitalícia reservada para Santo Antônio, o padroeiro da cidade. É como se ele participasse da vida da comunidade. O salário de vereador é entregue todos os meses à paróquia local.
Ser patrona significava não só ter o dever de honrá-la, mas também de garantir sua proteção. Existia a concepção de uma relação recíproca: o fiel oferecia o obsequium e oservitium devoto e  total ao titular e, em troca, recebia “ajuda” e “proteção”, “graças” e “benefícios”. Este é, justamente, o caso do monte Carmelo. O título mariano se transformará na origem de uma fonte espiritual profundamente encarnada. A Virgem Maria será a Patrona do grupo, e o grupo se sentirá unido a ela vital e existencialmente, considerando-se inclusive “instituído para honrá-la e servi-la”. Eles podiam reivindicar, com todo o direito, o título de “Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo”. Maria era a Senhora absoluta dos Carmelitas.
O mais notável entre os teólogos carmelitanos daquele tempo, João Baconthorp, aplica a Maria a promessa divina feita em Isaías: Data est ei decor Carmeli - dar-te-ei a beleza do Carmelo. Para ele Maria é quem embeleza o Monte e o Monte é dela, ela é a Senhora do Carmelo, a Dominca Loci. O itinerário do Carmelita será o de tudo fazer para a sua honra e glória porque, segundo a vontade divina, esta é a razão da existência de sua Ordem. A vida do Carmelita exige, por isso, uma sincera e vasta imitação das virtudes contempladas em Maria, porque a conformidade é o meio melhor para a sua glorificação.



Espiritualidade Carmelitana

A ordem carmelita nasce a partir de um estilo eremitico vivido nas montanhas e vales do Monte Carmelo na Terra Santa (Israel). É chamado assim, por ser uma montanha com 170 metros de altitude que fica na cordilheira de mesmo nome, na Antiga Palestina (Israel), com 34 km de extensão limitando-se ao Norte com Haifa, cidade marítima, pelo sul com as terras de Cesaréia, pelo Leste com a planície de Esdrelon e a oeste com o mar Mediterrâneo.

Nos escrito bíblico o monte é famoso devido a sua fertilidade e natureza, assim como merece especial destaque a disputa do profeta Elias com os profetas de Baal (cf. ). Durante sua vida, Elias sempre revelou grande intimidade e amor ilimitado por Deus, fazendo com que seu exemplo fosse seguido por muitos, a começar por Elizeu (cf. )
Cultiva-se também grande devoção a Virgem Maria, devido ao surgimento de uma pequena nuvem q em forma de mão, enviada por Deus dando origem a providencial chuva na região. Com isso, passa a ser interpretada como intercessora em benefício do povo e por isso compreendida como sendo a própria Mãe de Deus.

Quando os cruzados, no século XII chegaram a Terra Santa, expalhou-se a notícias que ali havia eremitas vivendo a solidão, o silêncio e a oração e diziam ter como fundador o profeta Elias e grande devoção à Mãe de Deus, como a Virgem do Carmelo. Muitos deste cruzados aderiram então a nova vida.

A espiritualidade do Carmelo é a espiritualidade da união com Deus e intimidade divina

Entre estes estava Bertoldo, que nos anos de 1153 e 1159, com ajuda de seus companheiros constroem um pequeno oratório perto da gruta de Elias. Em 1229 estes homens almejando a vida religiosa, pediram a Santo Alberto, patriarca de Jerusalém, que lhe fizesse uma regra de vida, que posteriormente foi aprovada pelo para Honório III e aprovada em 1226.
Posteriormente, entre tantas tentativas de reforma na Ordem do Carmo, no século XVI, Santa Teresa de Jesus, com ajuda de São João da Cruz, na cidade Espanhola de Ávila reformula e atualiza a vivência dos carmelitas, fundando vários conventos de monjas carmelitas e também de frades.

Hoje a reforma Teresiana conta com 4.000 religiosos no mundo, com umas 30 províncias vicariatos e delegações. Prova de uma fecundidade são também as Irmãs Carmelitas em torno de 15.000 e as numerosas congregações de irmãs como as teresianas, missionárias e tantas outras.


Espiritualidade do Carmelo Descalço

A reforma introduzida por Teresa e João da Cruz quer ser uma superior e quanto delicada fusão entre o ideal contemplativo, próprio dos primeiros eremitas do Monte Carmelo, e o ideal apostólico que animou profundamente os dois Santos Reformadores. Esta admirável síntese espiritual pode ser esquematizada nos seguintes binômios:

• Intensa busca de Deus, que busca o homem, e grande atenção ao homem, sedento de Deus.
• Comunhão com Deus, no seguimento do Cristo, e comunhão com a Igreja, do Cristo seguidora.
• Repouso do ânimo na prática da oração e esforço ascético de purificação.
• Quietude em Deus e inquietude pela salvação do mundo.
• Gosto pelas coisas espirituais e sentido do concreto.
• Solidão, silêncio, retiro e zelo pelas almas, doutrina universal, impulso missionário.

A espiritualidade do Carmelo se embasa sobre a doutrina de Teresa de Jesus e de João da Cruz, proclamados Doutores da Igreja, e é unanemente reconhecida como o suporte fundamental da teologia ascética e mística. Esta doutrina, que toma o nome de Escola Teresiana, foi sucessivamente enriquecida pela experiência e pelos escritos de outras figuras carmelitanas, como Teresa do Menino Jesus (desde 1997 Doutora da Igreja), Elisabete da Trindade e Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Característico da espiritualidade carmelitana é o acentuado cristocentrismo. No coração da vida espiritual resplende a figura de Cristo, que a alma busca por meio das virtudes teologais (fé, esperança e amor) e ascéticas (humildade, caridade e desapego), tomando o caminho da oração amorosa.
Desta espiritualidade profundamente mística e corajosamente ascética floresce, desde o século XVII, o ideal missionário. Basta pensar que a primeira Congregação de Propaganda Fidei (1600) foi em grande parte obra dos Carmelitas Descalços, e teve a notável influência do grande missionário espanhol Fr. Tomás de Jesus. Os primeiros missionários italianos estiveram na Pérsia (atual Irã e Iraque - 1604) e em seguida fundaram em Malta, nas Índias, em Moçambique e Madagascar, na China e no Extremo Oriente.